A Rua Joaquim Avundano é linda, mas a convivência forçada entre taças de vinho e escapamentos abertos é um erro urbano.
Quem chega hoje à Rua Joaquim Avundano, no Miramar, tem a sensação imediata de estar em uma vila gastronômica. A prefeitura acertou na estética: o piso intertravado que nivela a rua à calçada, a iluminação baixa e a sequência de bares e restaurantes de alta qualidade criaram, sem dúvida, o metro quadrado mais charmoso da zona leste de João Pessoa.
Mas basta sentar em uma das mesas na calçada para o encanto dar lugar à tensão.
O problema é óbvio e frustrante: criaram um calçadão, mas esqueceram de avisar aos carros. O conceito de “rua compartilhada” — onde pedestres e veículos convivem no mesmo nível — funciona muito bem na teoria europeia. Na prática de João Pessoa, vira um risco de vida.
Não faz o menor sentido que uma via tão estreita, abarrotada de famílias, casais e grupos de amigos em pé, permita o trânsito livre de passagem. A rua, que deveria ser um refúgio, vira atalho.
A experiência de jantar ali é interrompida constantemente. Primeiro, pelo medo: ver um SUV passando a centímetros de uma cadeira onde alguém está sentado é angustiante. A proximidade física entre o para-choque e o cliente é zero. Segundo, pelo desrespeito: a rua virou vitrine para motos barulhentas e carros que entram acelerando, ignorando completamente que aquele espaço agora tem vocação de lazer, não de fluxo.
Em vez de um ambiente relaxante, temos um “cuidado com o carro” a cada cinco minutos. A pergunta que fica é: por que a rua não é fechada definitivamente para veículos a partir das 18h? Colocar cones ou fitas de vez em quando não resolve. Enquanto o acesso for livre, o motorista mal-educado vai entrar.
O Miramar ganhou um presente com essa rua, mas enquanto carros e motos disputarem espaço com pedestres em uma via de lazer, o “charme” virá sempre acompanhado do perigo. A rua é para pessoas; os carros já têm o resto da cidade inteira.

